Como poderia o meu corpo ser de outro?

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Falar sobre o amor de uma mulher não é o lugar comum que muitos podem imaginar, afinal antes de sermos mulheres, somos humanas e sofremos influência do meio tanto quanto os homens, além do que, entre nós mesmas, somos diferentes na maneira de expressar nossos sentimentos e principalmente quanto ao que nos permitimos, logo entendam que trata-se de um ponto de vista e fiquem a vontade, especialmente as mulheres, para discordar.

Usarei a única régua que possuo: eu mesma.

Enquanto o homem ama com toda a força do seu ser, a mulher ama com força e devoção infinitos. O amor do homem é o impulso, a energia, a razão para que ele mova céus e terras pelo amor da mulher por ele amada, é o que fará com que ele lute para ser visto, admirado, aceito e amado por sua escolhida. O amor da mulher, uma vez conquistado é a energia que os mantem unidos, é a devoção cuidadosa, a paixão ardente que só encontra lugar nos braços dele.

Nada é maior que o coração de uma mulher, todo o universo cabe dentro dele. E ainda assim, às vezes, esse coração transborda e não consegue conter o amor que ela sente por seu escolhido. Se nada muito errado acontecer, o amor da mulher tende a crescer sempre, e não a diminuir.

Se os homens entendessem a devoção a Deus, perceberiam o amor divino no amor de uma mulher. Uma falecida amiga judia também, Verônica, explicava bem isso em seis palavras (como ela costumava dizer): “vivo para ele, morro por ele”.

Quando procriam, a natureza se curva, e através dela Deus se manifesta. O amor que dá frutos, concebido, gerado, permanece nela, e é nela a expressão do maior milagre divino, a vida humana.

Ela não toma para si a glória merecida, ela homenageia o escolhido de seu coração e nesse momento põe o universo aos pés dele. A chegada de uma nova alma a este mundo passa pelos canais do corpo da mulher, que não consegue se ater a dor, que não se limita a sua própria humanidade, nem tão pouco se sacia do homem amado. Ela apresenta o filho ao seu adorado, não orgulhosa do que acaba de vencer, mas esperando a aceitação (felicidade) dele para que ela possa então se realizar. Satisfeito esse homem, agora em três, ela volta outra vez, a entregar-se ao prazer de estar com seu amado gerando de novo, já esquecida da dor, sem temer nada, apenas entregue ao amor do qual ela tanto precisa e que nela se manifesta, e que dá sentido à sua existência.

Para quem entende o amor como necessidade absoluta da alma humana, para que continuemos a existir como acreditamos iluminados pela fé judaico-cristã, não há estranheza em ser submisso ao outro, já que essa submissão não é ser dominado pelo ser amado, e sim incluí-lo em todos os momentos de nossas vidas, e estarmos igualmente incluídos.

E se assim amamos, e não falo de uma paixão que se vai depois dos dois anos que normalmente dura a chama dessa vela, mas da cumplicidade em que um se encaixa tão perfeitamente na alma do outro que seria uma violência, uma agressão cruel e desmedida, estar com uma terceira pessoa; nesse contexto, dizer que quem ama não trai, é apenas lógica – ao menos para a mulher cujo amor ultrapassa as fronteiras humanas.

Se ele me deixasse, se ele ficasse tetraplégico, se ele morresse, ele mudaria, mas enquanto o sentimento por ele despertado existisse, enquanto meu coração e meu espírito a ele pertencessem, como poderia o meu corpo ser de outro?

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